Monday, August 28, 2006

Potosí



Fico triste de não ter conhecido a cidade de Potosí. A história do lugar é mágica e lamentável. Quando andei pela Bolívia fiquei tentando enxergar onde estava a riqueza daquele país que já teve mais de cinqüenta por cento de PIB advindo da narco-produção. No altiplano boliviano onde se concentra grande parte da população a geografia acidentada me pareceu agressora. Não fui também na região dos Yungas onde concentra a produção agrícola do país. A Bolívia tem um passado histórico marcado por derrotas. Em 1855 os índios receberam de volta um grande número de terras tomadas pelos espanhóis , mas um golpe militar em 1879 voltou a confisca-las. No mesmo ano, aconteceu a Guerra do Pacífico quando a Bolívia se uniu ao Peru contra o Chile. O país se retirou do conflito em 1880 assinando um termo de armistício em 1884 que praticamente obrigava a aceitar as novas fronteiras do Chile, o vencedor. Com a derrota a Bolívia perdeu a província de Atacama e sua única saída para o mar, perda da mina de Chuquicamata, a maior mina de cobre do mundo, que viria a ser a principal riqueza do Chile. Nesta mesma época, seringueiros brasileiros haviam ocupado uma grande parte do território da Bolívia. O Brasil então precaveu-se anexando a região(futuro estado do Acre) e comprando-a da Bolívia por um preço irrisório, já que os bolivianos não queriam provocar uma guerra que não ganhariam. Entre 1933 e 1935, Bolívia e Paraguai disputaram a supremacia sobre o Chaco Boreal, região no qual se acreditava haver jazidas de petróleo. Após a guerra, uma arbitragem internacional estabeleceu a divisão do Chaco, dois terços para o Paraguai e um terço para a Bolívia. Nova derrota.
Ainda acredito que o principal potencial da Bolívia é a mineração. Pouca gente conhece a história real de Potosí. Apenas sabem que é uma cidade histórica da Bolívia onde se pode visitar uma mina semi abandonada de prata. Nessa mina ainda resistem mineiros extraindo o estanho. Da boca dos 5 mil buracos abertos pelos espanhóis no monte Potosí a quase 5000 metros de altitude pouca gente tem noção da riqueza jorrada ao longo dos séculos. Entre 1503 e 1660, segundo dados obtidos da Casa de Contratação de Sevilha chegaram ao porto de San Lúcar de Barrameda 185 MIL QUILOS DE OURO E 16 MILHOES DE QUILOS DE PRATA. A prata transportada para a Espanha em pouco mais de um século e meio excedia três vezes o total das reservas européias sem contar a vultosa exportação clandestina. A cidade de Potosí foi um "Eldorado" que saiu do mito. Como a Espanha tinha a vaca mas não bebia o leite toda essa riqueza fluiu para Europa. Grandes credores como a Inglaterra criaram leis que proibia a saída do país do ouro e da prata. Ou seja, pode se afirmar que a revolução industrial foi patrocinada pelo potencial mineral da Bolívia. "Vale um Peru" era o elogio máximo às pessoas ou às coisas quando Pizzaro tornou-se dono de Cuzco, mas a partir do novo descobrimento, Dom Quixote de la Mancha adverte Sancho com outras palavras: "Vale um Potosí". Só 28 anos depois que a cidade brotou dos Andes já havia como mágica, a mesma população de Londres e era mais habitada do que Sevilha, Madri, Roma, ou Paris. Era uma das maiores e mais ricas cidades do mundo. No começo do século XVII a cidade já contava com 36 igrejas esplendidamente ornamentadas, 36 casas de jogo e 14 escolas de danças.
Em 1579, queixava-se o ouvidor Matienzo: "Nunca falta – dizia – novidade, safadezas e atrevimentos". Por essas esta época já havia em Potosí 800 jogadores profissionais e 120 prostitutas célebres, a cujos resplandecentes salões acorriam os ricos mineiros. Em 1608, Potosí festejava as festas do Santíssimo Sacramento com seis dias de comédias e seis noites de máscaras, oito dias de touradas e três de saraus, dois de torneios e outras festas.

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